Mostrando postagens com marcador Livros. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Livros. Mostrar todas as postagens

Os abusados



Abusados são aqueles que traficam no morro e insitam a revolução social? Abusados são os editores que determinam um repórter para uma matéria por achá-lo parecido com os jovens da favela? Abusados são aqueles que entram no morro com o objetivo de relatar a vida do moradores em determinado episódio e saem de lá ameaçados por uma entrevista com o traficante da favela? Ou abusado é Caco Barcellos que relata tudo isso em “Abusado – O Dono do Morro da Dona Marta”?

O que está relatado no livro de Barcellos é um episódio lamentável para o jornalismo brasileiro. Não considero um episódio policial, nem político ou social, é sim um capítulo as ser lamentado na história do jornalismo. A gravação do clipe de Michael Jackson no Morro da Dona Marta foi uma opção dos produtores do cantor que precisavam de cenas de mazelas do terceiro mundo para dizer “They don't care about us”. A negociação para gravação do clipe previa segurança da equipe de produção feita pela própria “força tarefa” do Dona Marta e a não participação da imprensa no evento. Vale a pena citar o esquecido Art. 1º o Código de Ética do Jornalista que diz: “o acesso à informação pública é um direito inerente à condição de vida em sociedade, que não pode ser impedido por nenhum tipo de interesse.”

Diante desse impedimento, os editores do jornais O Dia, O Globo e Jornal do Brasil, em um momento “diretores de cinema” escolheram seus melhores repórteres para a “missão impossível” do Morro Dona Marta. Os critérios de escolha são bem peculiares levando em consideração que os três repórteres deveriam se infiltrar na comunidade como parte dela, tentar fazer imagens e escrever suas matérias sobre a visita de Michael Jackson. O repórter Marcelo Moreira, do Jornal do Brasil, foi escalado porque parecia muito com os jovens da favela principalmente quando usava o boné virado para trás. Nelito Fernandes, do O Globo, foi criado em áreas pobres do Rio de Janeiro e conhecia bem a realidade de comunidades pobres. Enfim, Sílvio Barsetti, do O Dia, um repórter habituado a cobrir reportagens policiais (pena que desta vez foi escalado para atuar no filme “Afundando o jornalismo brasileiro”). Estes foram os critérios editoriais mais preconceituosos que o jornalismo brasileiro já vivenciou.

E lá se foram os três repórtres entrar na favela para serem rapidamente descobertos pelo grupo de Juliano VP, o chefe do tráfico no Dona Marta. A cobertura do evento de Michal Jackson terminou aqui, sendo o próximo capítulo da história a entrevista concedida por Julianao VP aos repórteres fantasiados. Na negociação da entrevista estava prevista a saída do fotógrafos e não divulgação do nome do entrevistado. O traficante confiou na palavra de honra dos três repórteres que entre tantas disparadas ouviram durante a entrevista que “Jornalistas são abutres. Não podem ver carniça.” Vale a pena citar o esquecido Art. 8º o Código de Ética do Jornalista que diz: “sempre que considerar correto e necessário, o jornalista resguardará a origem e identidade das suas fontes de informação.”

Os jornalista dispensaram, não entendo por que motivo, o uso do gravador e apenas anotaram aquela que seria a entrevista mais marcante de suas vidas. Com as informações em mãos os repórteres chegaram em seus respectivos jornais para a consulta ética ao editor: e aí, dar ou não dar o nome do traficante? A decisão dos três jornais foi pela não preservação da fonte. Nelito Fernandes ouviu do seu editor “não tem acordo com bandido” e que sem o nome não haveria reportagem. Marcelo Moreira publicou o nome por achar que o concorrente do O Globo publicaria. Barsetti, forçado pela decisão editorial, também divulgou o nome do traficante. Mesmo ameaçados com um aviso de Juliano VP “Olha cuidado com o que vocês vão escrever, que eu descubro o endereço de vocês”, os repórteres (respaldados pelos editores) assumiram a responsabilidade e cometendo uma série de erros publicaram suas matérias. Os jornalistas se subordinaram ao interesse pelo furo, à concorrência pela informação. Vale a pena repensar essa subordinação. Vale a pena citar o esquecido Art. 6º o Código de Ética do Jornalista que diz: “o exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social e finalidade pública, subordinado ao presente Código de Ética.”

O jornalismo é uma das profissões de maior exposição do profissional. Isso porque ele é responsável pelo que escreve, pelas opiniões que forma e pelas repercussões que causa. É por isso que a informação correta prevê problemas e preserva a credibilidade do jornal e do repórter. A grande polêmica da entrevista de Juliano VP foi a frase: “Não cheiro, não bebo. Eu só fumo o mato certo”. As diversas versões desta afirmação causaram a discussão ética sobre a manipulação da informação de maneira imprecisa pelos jornalistas. Nelito Fernandes com prudência não entendeu e não divulgou a frase, foi retaliado pelos editores. Sílvio Barsetti publicou: “Nunca fiz isso. Eu não cheiro, não fumo, não bebo. Só mato o certo”. A última frase é resultado de uma inferência do repórter com base em outras declarações do traficante. Atenção, o papel do repórter não é inferir! Marcelo Moreira publicou: “Eu não bebo, não fumo e não cheio. Meu único vício é matar, mas só mato quem merece morrer”. Tardiamente o repórter admitiu a interpretação errada da fala do traficante. Atenção, o papel do repórter não é interpretar! Vale a pena citar o esquecido Art. 7º o Código de Ética do Jornalista que diz: “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação.”

A entevista rendeu boas manchetes, interessante é perceber a variação de linha editorial nos três veículos Jornal do Brasil. O Dia, O Globo. Uns mais formais, outros mais radicais, alguns apostando em manchetes com trocadilhos outros apostando em palavras que causariam maior embate político e repercussão social. Dessa forma, as três machetes: O Jornal do Brasil: “O dono do Dona Marta”. O Dia: “O tráfico está pronto para a Guerra”e O Globo: “Traficante comanda a segurança e desafia a polícia”.

O resultado de todo este episódio foi a mudança na vida pessoal dos repórteres. A repercussão social e política das matérias renderam comentários do subsecretário, Hélio Luz; do governador, Marcello Alencar e juíza Denise Frossad. O que menos importava naquele momento era analisar o que os formadores de opinião tinham a dizer sobre o que escreveram os formadores de opinião. Importava ver o risco, não calculado, por repórteres e editores ao finalizar estas matérias. Sobre a vida dos três repórteres abusados: Nelito Fernandes, ameaçado, passou um tempo fora do Rio de Janeiro, evitou por um longo período dar nome e endereço. Marcelo Moreira foi ameaçado por telefone, mas resolveu enfrentar o problema na cidade. Sílvio Barsetti tomou cuidados básicos de segurança pessoal. Sobre Juliano VP, saiu do “megaestrelato” do clipe, para a derrota nas capas de jornais. Mas, a derrota para um abusado não significa nada, o famoso dono do Dona Marta só inaugou sua presença nas manchetes brasileiras.

Livro de Hitler ganha versão mangá no Japão


Bitte schön!

Se era bom, ficou ainda melhor! O post abaixo é destinado a nossa amiga Alba, apaixonada por quadrinhos e pelas histórias irradiantes do nosso Admirável (eu disse admirável e não adorável) artista e líder político, "führer".

Para quem já leu "Mein Kampf" (em português, Minha Luta), livro escrito na prisão por Adolf Hitler, sabe que é um ótimo livro para os adoradores de história (em particular a época conturbada do "entre-Guerras"), e para quem deseja tentar compreender um pouco a mentalidade desta personalidade que foi figura chave na evolução do mundo da forma que vemos hoje. Podemos tentar entender de onde ele tira todo aquele ódio descabido contra os judeus, como outras coisas que passam pela cabeça desse que foi um grande manipulador de massas.

O objetivo deste post é divulgar que 2 polêmicos e famosos livros acabaram de ganhar os traços do mangá no Japão. Como você, leitor, já deve estar imaginando, um deles é o Mein Kampf, que chegou às livrarias japonesas em novembro. Agora, em dezembro, é a vez de O Capital, de Karl Marx. (ps: tenho certeza que esta notícia será muito bem recebida por certas pessoas aqui, aguardem os comentários)

A iniciativa foi da editora japonesa East Press, que resolveu incluir estas duas obras na sua coleção Clássicos da Literatura em Mangá.

"A idéia é oferecer ao leitor a possibilidade de ler um clássico e entender os conceitos em apenas uma hora", explicou o editor-chefe Kosuke Maruo à BBC Brasil.

Mein Kampf é um livro polêmico, pois contém as sementes da ideologia anti-semita e nacionalista que marcou o nazismo. "A idéia não é apresentar Hitler como vilão ou herói, mas apenas mostrar quem era e o que ele pensava. Não estamos preocupados com polêmicas", disse Maruo.

O editor lembra também que o livro, cuja publicação e venda são proibidas em alguns países, já foi editado no Japão. "Além disso, todo mundo já conhece a história inteira e como os nazistas pensavam", reforça ele, que diz não ter recebido até agora nenhuma reclamação de leitor.

O mangá conta a história do líder nazista, desde a infância, até culminar na Segunda Guerra Mundial. Fala também do ódio que ele sentia pelos judeus. "Vendo a história de vida dele, não dá para achar que era uma pessoa totalmente ruim. Ele era apenas uma pessoa triste", defendeu o editor-chefe.

Entre as obras conhecidas da literatura e da filosofia que viraram mangá pela East Press estão Crime e Castigo, de Dostoiévski, Fausto, de Goethe, Rei Lear, de Shakespeare, e Guerra e Paz, de Tólstoi.

Fica aí, então, mais uma dica cultural para quem gosta de uma boa literatura!


Auf Wiedersehen!


obs: os dados acima foram retiradas de notícia divulgada no globo.com

Susan Sontag - SOBRE FOTOGRAFIA DIANTE DA DOR DOS OUTROS

Hoje quero falar, assim como Susan Sontag, da dor dos outros. Sobre a dor de ver a dor dos outros com olhar profissional, justamente o que ocorre na realidade dos fotojornalistas de guerra. São eles os produtores das imagens que insitam no mundo a curiosidade mórbida de ver a guerra. Eles não capturam a vida, mas sim o fim dela. De preferência fotografam o pós-vida imediato que poderá trazer mais entreternimento aos voyeristas de plantão. O resultado das fotos de guerra é a criação de pólos conceituais, fruto do imaginário popular. Isso significa que nas mãos do fotojornalista está a decisão de criar heróis ou vilões. Eles podem fazer da fotografia um testemunho histórico dando a ela o signifcado que desejam, basta usar a técnica que evidencia algum personagem, amplia o outro, reduz, aproxima, desfoca ou faz desaparecer. Quero dizer que a técnica com a câmera nas mãos tem poderes manipuladores que podem mudar o rumo de histórias. As fotos possuem maior probidade jornalística quanto menos encenadas forem, porém há uma série de "fakes" que produzem as fotografias com a intenção de fazer "a foto de bom gosto". Mau gosto é encenar, interferir na realidade daquilo que deveria ser um documento visual, pois as imagens têm a autoridade para ser documento.

Voltando à dor dos outros é preciso lembrar que o fotojornalismo de guerra está , muitas vezes, a serviço da espetacularização, é isso que Sontag teme se tornar uma erva daninha para o cenário fotográfico mundial. É a exploração das imagens mórbidas em busca de audiência e venda de jornais, que revelam o pazer inescrupuloso do ser humano por tragédias. Sontag chama isso de exploração do sentimento na fotografia. Eu chamaria de prostituição do sentimento na fotografia. As imagens de guerra são o retrato da dor não só daqueles imortalizados nas fotos, mas sim de suas famílias e amigos que diante da dor do outro podem sentir NADA do mórbido prazer e TUDO do vazio pela perda.

Na retrospectiva das guerras dos século XX e XXI, feita por Sontag, fica claro o quanto as fotografias de tragédias podem ser belas. Sim, é isso mesmo, são fotos belas, bem produzidas, dignas de livros, exposições e simpósios. É claro que análise técnica cabe aos profissioanais da aŕea que são capazes de escolher a fotografia da garota Vietnam, vítima do Napalm, como a imagem do século. Não se espera que os leitores de jornais digam que a composição das fotos e o enquadramento privilegiram a produção de sentido, este é o papel dos profissionais. A visão analítica diante da dor é de exclusividade profissional, os outros, por favor, sintam a dor.


Para quem não conhece a escritora, novelista, e film maker ameriana Susan Sontag, Luana's library está a disposição. Vale a pena engolir as palavras que te deixarão em dúvida sobre o real e virtual, a autenticidade e a manipulação. Palavras que te fazem pensar na relação do homem com as imagens e o quanto isso interfere ou não, na condição humana.

"When we are afraid, we shoot. But when we are nostalgic, we take pictures." (Sontag)

Leiam:
SONTAG, Susan. On Photography, 1977. (Luana's Library - em inglês mesmo)
















SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros, 2003



STARDUST

s
O FILME

É fantástico, divertido, engraçado, mágico e surpreendente! Adaptação do livro do Niel Gaiman (Já falei sobre ele no post "Inveja pouca é bobagem"). Este filme é mais uma amostra do talento, imaginação e competência de Gaiman. Neste filme dá para encontra de tudo. Desde atores desconhecidos que dão um show na interpretação, até atores de peso, como Michelle Pfeiffer e Robert de Niro em papéis secundários, mas pra lá de inusitados.
Tá certo que o livro do Niel é mais trabalhado e profundo e a adaptação para o cinema sofre alguns cortes. Mas este filme é ótimo para se assistir com o coração aberto a tudo...a VIDA...ao AMOR...a SIMPLICIDADE... e a PUREZA

A história gira em torno de um rapaz que atravessa a fronteira de seu mundo mágico para o mundo real em busca de uma estrela que prometeu a uma bela jovem de sua vila. Porém não é só ele que está atrás da estrela cadente. Três bruxas perversas buscam insaciavelmente a estrela. Além de relatar a história de um rei e seus herdeiros e de um grupo de piratas durões.


O LIVRO


O livro transita entre a literatura e os quadrinhos e sua ilustração é muito bonita. As imagens ilustram o texto. Aborda aspectos mitológicos, o universo fantástico e mágico. Em que tudo é possível...
Neil Gaiman e Charles Vess trazem para o universo adulto, um verdadeiro conto de fadas. A Gaiman coube a maestria das excelentes idéias e a Vess a ilustração. Nesta obra os sonhos ganham destaque, quem melhor do que Neil para falar sobre eles? A fantasia é o limite. Há um muro que separa a fantasia da realidade, com uma pequena e única abertura, que é constantemente vigiada. Com certeza! é uma leitura que prende do início ao fim. Com um leve toque de suspense. Gaiman apresenta várias tramas paralelas que, enfim, se encontram no desenrolar da narrativa. Dá próxima vez que ver uma estrela cadente caindo do céu. Ao invés de fazer um pedido, corra atrás da sua sorte. Busque sua própria estrela. Tenho certeza, de que não vai se arrepender.





Desejei ter um punhado de pó de estrela
Para poder viajar por mundos inóspitos
Formados pelas mais belas paisagens e
habitados pelos mais dignos e majestosos habitantes

Fechei os olhei e voei o mais alto possível
Num lugar em que ninguém poderia me alcançar
Toquei as estrelas e assoprei as nuvens

Mas em um descuido deslizei e cai
Despenquei do céu
Porém a relva macia resolve me acalentar
E num dia maravilhoso
Vi estrelas a me guiar.

Não gastei todo pó de estrela
Ainda guardo comigo um pouco

Na lembrança! Ainda há toda beleza guardada
desta aventura! única e incomparável

O Chatô da propaganda "Na toca dos leões"

Como tudo que é bom deve ser compartilhado, a dica dessa vez vai para “Na toca dos leões”, livro de Fernando Morais que acabei de ler e que conta a história da W/Brasil, uma das agências de propaganda mais premiadas do mundo. (Um oferecimento de Luana’s Library, que tem patrocinado minhas últimas leituras)

Pode parecer mentira, mas há 34 anos, o estouro de um pneu, mudou a história da publicidade no país. E o protagonista desta história é ninguém menos que Washington Olivetto, que aos 19 anos conquistou o seu primeiro Leão no Festival de Cannes - e mais centenas de prêmios que ele colecionaria ao longo da sua vida. Na Toca dos Leões é um interessantíssimo trabalho, tanto para quem é da área da propaganda quanto para quem não é. Para os primeiros, as razões são óbvias. Sem maquiagem, Morais faz um apanhado de aproximadamente três décadas da publicidade no Brasil, contando histórias de bastidores, mostrando polêmicas, acusações de traições, dramas pessoais (como o seqüestro de Olivetto) e revelando como surgiram peças e campanhas que marcaram época. A exemplo disso, o livro mostra parte da cultura de nosso país, uma vez que a W/Brasil (e a DPZ, agência em que Washington trabalhou) criou peças que caíram na boca do povo e hoje fazem parte do dia-a-dia dos brasileiros e brasileiras, como o garoto Bombril e o slogan “O primeiro sutiã a gente nunca esquece”, criado para a Valisére.

Essa tal publicidade, cujo negócio Olivetto entende muito bem, sempre se apoiou sobre um tripé, na qual o lucro, a vaidade e o poder são o seu sustento. Com Washington não poderia ser diferente, mas ao trio de pré-requisitos ele acrescenta ainda criatividade, charme e talento.

Assim como Chateaubriand exerceu enorme influência na construção da indústria das comunicações no Brasil, Olivetto tem no currículo uma inquestionável contribuição à propaganda. Não apenas pelos prêmios que conquistou, mas por ser protagonista da história de consolidação de um modelo de publicidade no país.

Olivetto estreou no mundo publicitário aos 18 anos, como estagiário em uma agência chamada HGP. De lá passou para outras agências maiores, como a Lince e, mais tarde, a Casabranca. Entrou na DPZ em 73 e só sairia de lá 13 anos mais tarde, em 86, para montar seu primeiro próprio negócio: a W/GGK.

Três anos depois a W/GGK se transformaria em W/Brasil, quando Olivetto e seus dois sócios, Gabriel Zellmeister e Javier Llussá adquiriram 100% do negócio. Ela viria a ser uma das agências mais premiadas do mundo. Juntos, os 3 mudaram a cara da propaganda no Brasil.

Agora como estudante de publicidade, fico pensando que desses tempos pra cá o mundo da propaganda vem sofrendo uma crise de vulgaridade e a cada dia torna-se mais difícil sustentar este modelo que até pouco tempo era sinônimo de sucesso. E isso acontece mesmo embora a publicidade tenha buscado escapar do estigma de alienada, exclusivamente ligada ao que há de pior no capitalismo. E quanto a isso precisamos repensar melhor por quais caminhos queremos enveredar, para que este negócio chamado publicidade não seja visto como glamurosa e superficial.

E fica ai a dica. Para quem ainda não conhece o livro, será bacana também descobrir mais sobre a carreira de Washington Olivetto e seu incrível talento e paixão pela profissão. Uma obra obrigatória para publicitários, mas recomendada a todos.

Viva o lado Jesus Cristo da vida!

“A maior campanha publicitária da história da humanidade foi a de Jesus Cristo. Ela lançou um slogan universal: ‘Amai-vos uns aos outros’. E um admirável logotipo: a cruz.”

...eu ainda ousaria acrescentar que ela tem a melhor agência, os templos e as igrejas, e o grande produto, a salvação! Poderia até concorrer ao Leão de Ouro no Festival de Cannes.

Um dos hábitos que cultivo na minha hora EXTRAordinária é a prática da leitura, especialmente dos títulos ligados à propaganda. Antes de compartilhar e tecer meus comentários a respeito da frase acima, retirada do livro “A Publicidade é um cadáver que nos sorri” do famoso fotógrafo e publicitário Oliviero Toscani, quero agradecer a Lu (Luana, também escritora do blog e não meu futuro sócio e famoso publicitário Luciano Benetton...rs), por ter me emprestado o livro. Quero também descartar qualquer possibilidade de blasfêmia ao sugerir a eventual ligação de Jesus Cristo com práticas comerciais. Tenho a minha própria religião e quero apenas comparar o marketing do cristianismo com minha vivência pessoal de estudante de publicidade diante de constantes desafios profissionais.

Voltando ao assunto, Jesus era carpinteiro, profissão aprendida com o pai, mas profissionalmente gosto de ver Jesus como um publicitário, pois ele sabia se comunicar como ninguém. Engana-se quem pensa que o marketing foi inventado pelos pragmáticos homens de negócios americanos, em fins do século XIX e aprimorado por uma infinidade de autores no decorrer do século XX.

Com o treinamento dos doze seguidores dos mandamentos de Jesus, a rede de comunicação interna foi muito bem estruturada e, com isso, o tema central – a propagação da palavra de Deus – pôde ser externalizada com eficácia. Não é à toa, afinal, que a história da saga de Jesus - seus milagres, sua morte, sua missão - atravessou continentes, séculos e é, hoje, a história mais conhecida do mundo cristão. Pense você: qual o produto de maior durabilidade desde que a História da humanidade teve início? Não, não é o disco de vinil, nem computador e muito menos o celular... É a Igreja Católica.

Se fossemos interpretar a história da publicidade no atual contexto, diria que tudo começou com um brainstorm no deserto. E Deus, o primeiro cliente, desceu até Moisés, no Monte Sinai, e lhe entregou o briefing, encarregando-o do maior job de todos os tempos. Moisés ainda recebeu um release e ao abri-lo se deparou com duas "Tábuas da Lei" contendo os Dez Mandamentos de Deus, que se fossemos interpretar à luz do capitalismo moderno, da criatividade e do humor se configuraria da seguinte forma:

1) “Amar a Deus, sobre todas as coisas”, ao bezerro de ouro: o produto. E também o seus sucedâneos irresistíveis: o sucesso, a riqueza...

2) Deus e seu santo nome são excelentes testemunhos, aqui e ali, para inumeráveis campanhas. E também os seus símbolos, como pastores a contabilizar lucros em uma máquina de calcular.

3) “Guardar os domingos e festas”. Implica não só abster-se de trabalhar como, antes de tudo, em considerar tais dias santos. Que diferença existe, para a idolatria publicitária, entre os dias santos e, digamos, os feriados? O mais santo dos dias da cristandade (o Natal) é evento de maior fúria consumista.

4) Pai e mãe são supostamente "honrados" no Dia do Pai e no Dia da Mãe. Uma avalanche de sentimentalismo mercenário. Fora daí, são meros alvos também de manipulação, quando não da chantagem publicitária.

5) “Não matar”. Com certeza uma exceção. Pelo contrário, a publicidade exprime interesses de uma sociedade que quer o indivíduo em contínuo esforço de trabalhar e comprar. Nunca localizei na publicidade comercial, por "mais audaciosa", qualquer permissão para matar. (Ao contrário, é claro, da propaganda de guerra).

6) “Não pecar contra a castidade”. Castidade de quem? Aliás, quem é casto hoje em dia se o que vemos hoje são muitos convites para pecar contra a castidade?!

7) “Não furtar”. Mas não se esqueça que o lucro prevalece a qualquer preço. E não importa qual a permissão para que a falcatrua passe despercebida, o importante é “levar vantagem”.

8) “Não levantar falso testemunho”. Mas jure estar dizendo a verdade. E se a culpa é sua, a ponha em quem quiser.

9) “Não desejar a mulher do próximo”. Sem comentários.

10) “Não cobiçar as coisas alheias”. Cobiçar as coisas alheias é o que faz girar a economia hoje. SEM COMENTÁRIOS MESMO!!

Seguindo pelo deserto, Moisés, já sabendo do seu deadline, utilizou-se de um teaser para anunciar ao seu povo a breve chegada de um profeta judeu, tão importante para Israel. “O Senhor seu Deus, levantará do meio de seus próprios irmãos um profeta como eu; ouçam-no” (Dt 18.15).

Com a morte de Moisés, a conta foi repassada ao mestre Jesus, profeta que deveria vir ao mundo. Jesus ungiu setenta discípulos emissores para ensinar as nações. Enviou doze apóstolos marketeiros para alcançar o mundo. Jesus chamou estes discípulos e pediu para que eles fossem, de dois em dois (como duplas de criação), falar sobre ele e sua doutrina pelos vilarejos e cidades. Seus discípulos, assim tornados publicitários, trataram de divulgar seus ensinamentos. Dessa forma, Jesus, com seu grande poder de garoto propaganda, configurou todas as estratégias de ação, que acabaram por dissipar sua história pelo mundo inteiro e criar diversos seguidores e disseminadores da sua palavra.

Passados os anos, e mesmo com a morte de Jesus, o marketing ainda perpetuava. Os grandes produtores e os mecenas da Igreja, a agência vaticano, não hesitavam em contratar os maiores diretores de criação de sua época: Miguelangelo, Leonardo da Vinci , Rafael, Lê Benin e tantos outros.

A publicidade sempre viveu da contribuição fundamental da agência. Os Apóstolos da comunicação. “A publicidade é o catecismo da religião do consumo. É um livro de missa sem imaginação, sem nenhum senso do drama nem do mistério humano. É uma religião materialista, uma monstruosidade”. (Toscani)

Bom...espero que tenham gostado do texto. Acredito que os nossos publicitários aprenderiam muito se olhassem com atenção para a história de Jesus Cristo, que se tornou um dos temas mais explorados pelo marketing no mercado midiático. Até mesmo porque vivemos hoje uma sociedade que cultua vários deuses: o deus Estado, o deus Capital, o deus Ego… E, principalmente, a deusa Intolerância.

E como eu já dizia: "Deus até pode estar em todas as coisas, até mesmo na publicidade, mas é o Diabo que negocia a comissão."


Peixe grande e suas histórias incríveis, corruptas e reais

Em tempos conturbados da história da humanidade o povo clama por um destemido paladino. Mas qual será a cara do homem corajoso, defensor de valores éticos e morais na atualidade?


Tá certo que não vivemos num bom momento para reconhecermos grandes heróis reais.
Mas precisamos falar de pessoas que conseguem se destacar das demais. Sem deixar de acreditar que a verdade sempre deve ser contada. Não a verdade inventada ou contada por poucos. A narrativa do que aconteceu, de fato, precisa ser recontada para que a humanidade não perca a oportunidade de acertar espelhando-se em seus erros. Bom! É aqui que entrar o peixe grande, aquele mesmo, do filme "Peixe grande e suas histórias maravilhosas". Que narra a trajetória de um homem que gostar de falar sobre suas grandes histórias vividas quando ainda era jovem. Suas histórias são extraordinárias, mas não conseguem atrair a atenção de seu filho. Para reconquistar seu amor, o pai aventureiro tem que separar a ficção da realidade. Porém, ao falar do enredo de Peixe grande tenho o intuito de fazer uma conexão com a pergunta inicial do post. Além de mostra que ainda existem grandes pessoas que arriscam-se e valorizam a fidelidade ao contar os acontecimentos. Eis o nome. Greg Palast. Claro, que grandes relatos é o que não faltam para Greg Palast. Em seu livro "A melhor democracia que o dinheiro pode comprar" entrei em contato com a obra deste jornalista determinado. Tomei gosto pelo jornalismo investigativo , mesmo que o termo seja controverso. O livro faz mais do que relatar as fraudes nas eleições americanas de 2000. Nos mostra a verdade, baseada em dados concretos, minucioso método de pesquisa e provas documentadas e não em farsas mal inventadas. Se alguém quiser ler, sugiro a versão brasileira, que traz fatos importantes sobre o nosso pais em um capítulo especial. Mais que isso, nos faz ver que pisamos em terras escorregadias e perigosas. É preciso estar mais do que atento. É preciso dormir de olhos abertos.

Greg Palast é um jornalista investigativo cidadão dos Estados Unidos que mora e trabalha
na Inglaterra. Ao conferir seu livro vai se deparar com os abusos que costumam impedir a imprensa de atuar e infringem o silêncio que ronda a verdade. E Ver que tudo está a venda, até o que consideramos inimaginável. Ganhou grandes prêmios britânicos de jornalismo. Para conhecer sobre suas investigações é só acessar: http://gregpalast.com/