Desculpem-me os sensíveis, mas hoje não estou aqui para poupar as palavras. Agora peço a licença dos leitores deste blog para comentar sobre o caso "Lindemberg e Eloá". Confesso que evitei durante toda a semana me inteirar sobre este assunto, mas a imperícia dos envolvidos me irritam e a cobertura da mídia quase me enoja, corroborando para a espetacularização das tragédias.
Bom, o que quero comentar não é o sequestro em si, mas a imagem criada com toda essa situação. A busca por matérias e principalmente por audiências transforma situações como este sequestro em verdadeiros circos (sem comentários para a negociação de Sonia Abraão e o seqüestrador, ao vivo na RedeTv). É um verdadeiro show de exibições. Câmeras para todos os lados e de todos os ângulos, brigas de audiência entre emissoras, discussões e mais discussões com especialistas em estúdio... É um verdadeiro acontecimento, um "espetáculo" e, como tal, precisa de patrocinadores.
Confesso que o ocorrido me fez lembrar de filmes como “O quarto poder” com John Travolta e Dustin Hoffman e “Um dia de cão” com Al Pacino. Em ambos, levados por inusitados motivos, cidadãos desesperados sequestram pessoas e, com o tamanho da exposição, se empolgam com seus atos. No caso de Lindemberg e Eloá tínhamos ainda quase todos os elementos para um blockbuster cinematográfico, exceto pela falta de mocinhos. De fato, pelo absurdo e ridículo da situação o filme seria uma comédia de erros, uma tragédia de obscenidades em que as vidas de duas meninas de 15 anos foram absolutamente desprezadas.
Quem não se lembra do ônibus 174? O tal do Sandro, depois de fazer a PM carioca de palhaça por horas a fio, resolveu se entregar e, bem na hora que tudo ia acabar bem, um soldado do BOPE (ah se o Cap. Nascimento tivesse lá) manda ver com a pistola e acerta em tudo, menos no Sandro.
Se lembram também do caso Isabella Nardoni que, por incontáveis dias, monotematizou jornais, movimentou repórteres, agregou gente fantasiada e sorridente com cartazes em frente as delegacias ou casas de acusados diante de jornalistas e vendedores de pipoca, um verdadeiro espetáculo do horror ? Que fim levou?
Todo o país acompanhou esse caso, não porque fosse único ou pior do que tantas outras tragédias, mas como forma de, em mais um “reality show”, aguardar pelo desfecho para saber se no fim a mocinha morre ou sobrevive. A preocupação foi tanta, que alguns dias depois ninguém mais lembrava de nada e seguimos todos em direção a próxima novela da vida real. E infelizmente parece que o argumento de que o circo é armado em nome da “informação”, vem sendo a justificativa para a espetacularização de toda essa tragédia.
Essa exposição exacerbada é capaz de mexer com nossas fantasias e alimentar um sentimento perigosíssimo: a vaidade. Mas infelizmente é disso que o povo gosta, de fomentar essa indústria que transforma um sequestrador em celebridade. Pagamos pelo que nos vendem e acreditamos no que nos dizem. Para nós, real é o que aparece na tv e só enquanto está na tela. Depois do tiroteio, tragédia e morte entram os comerciais. Afinal, a publicidade está ai pra isso. Pra nos fazer lembrar das ofertas do supermercado, daquele tênis de marca que você está sonhando há dias, entre outros.
É de se lamentar que uma moça de 15 anos como Eloá esteja agora passando por um drama como este, talvez até por incompetência da PM de São Paulo, que resolveu brincar de gênio da lâmpada mágica e atender todas os pedidos e vontades de um bandido safado. Que merda é essa?? Aonde a gente vai parar? Infelizmente essa não foi a primeira, nem será a última vez que situações como essa acontecerão. E sem mais para o momento, boa noite a todos e até o próximo reality show!