Susan Sontag - SOBRE FOTOGRAFIA DIANTE DA DOR DOS OUTROS

Hoje quero falar, assim como Susan Sontag, da dor dos outros. Sobre a dor de ver a dor dos outros com olhar profissional, justamente o que ocorre na realidade dos fotojornalistas de guerra. São eles os produtores das imagens que insitam no mundo a curiosidade mórbida de ver a guerra. Eles não capturam a vida, mas sim o fim dela. De preferência fotografam o pós-vida imediato que poderá trazer mais entreternimento aos voyeristas de plantão. O resultado das fotos de guerra é a criação de pólos conceituais, fruto do imaginário popular. Isso significa que nas mãos do fotojornalista está a decisão de criar heróis ou vilões. Eles podem fazer da fotografia um testemunho histórico dando a ela o signifcado que desejam, basta usar a técnica que evidencia algum personagem, amplia o outro, reduz, aproxima, desfoca ou faz desaparecer. Quero dizer que a técnica com a câmera nas mãos tem poderes manipuladores que podem mudar o rumo de histórias. As fotos possuem maior probidade jornalística quanto menos encenadas forem, porém há uma série de "fakes" que produzem as fotografias com a intenção de fazer "a foto de bom gosto". Mau gosto é encenar, interferir na realidade daquilo que deveria ser um documento visual, pois as imagens têm a autoridade para ser documento.

Voltando à dor dos outros é preciso lembrar que o fotojornalismo de guerra está , muitas vezes, a serviço da espetacularização, é isso que Sontag teme se tornar uma erva daninha para o cenário fotográfico mundial. É a exploração das imagens mórbidas em busca de audiência e venda de jornais, que revelam o pazer inescrupuloso do ser humano por tragédias. Sontag chama isso de exploração do sentimento na fotografia. Eu chamaria de prostituição do sentimento na fotografia. As imagens de guerra são o retrato da dor não só daqueles imortalizados nas fotos, mas sim de suas famílias e amigos que diante da dor do outro podem sentir NADA do mórbido prazer e TUDO do vazio pela perda.

Na retrospectiva das guerras dos século XX e XXI, feita por Sontag, fica claro o quanto as fotografias de tragédias podem ser belas. Sim, é isso mesmo, são fotos belas, bem produzidas, dignas de livros, exposições e simpósios. É claro que análise técnica cabe aos profissioanais da aŕea que são capazes de escolher a fotografia da garota Vietnam, vítima do Napalm, como a imagem do século. Não se espera que os leitores de jornais digam que a composição das fotos e o enquadramento privilegiram a produção de sentido, este é o papel dos profissionais. A visão analítica diante da dor é de exclusividade profissional, os outros, por favor, sintam a dor.


Para quem não conhece a escritora, novelista, e film maker ameriana Susan Sontag, Luana's library está a disposição. Vale a pena engolir as palavras que te deixarão em dúvida sobre o real e virtual, a autenticidade e a manipulação. Palavras que te fazem pensar na relação do homem com as imagens e o quanto isso interfere ou não, na condição humana.

"When we are afraid, we shoot. But when we are nostalgic, we take pictures." (Sontag)

Leiam:
SONTAG, Susan. On Photography, 1977. (Luana's Library - em inglês mesmo)
















SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros, 2003



2 comentários:

  Unknown

5 de novembro de 2008 às 23:12

O que dizer diante da dor dos outros?

As fotos de guerra existem porque no mundo existem conflitos que devem ser registrados. Sim! na minha opinião algumas criticas em relação a certas fotografias é pura balela. Isto, porque as guerras existem há muito tempo. E os fotógrafos apenas registram determinado momento. Se é cruel e sanguinolento é porque a realidade também é! E claro, que fotos sensacionalistas que aparecem nos jornais privando o individuo de manter sua integridade como pessoa é um fato absurdo e intolerável. Contudo! na vida se deve manter o meio termo. Ter bom senso é o principal na escolha de uma foto violenta ou de conflito. Se naquele momento, o fotógrafo voltou seu olhar para a dor alheia, isso não o transforma em um monstro que deseja utilizar da dor para se promover. Ele faz seu papel de captador de certa realidade. E a realidade tem várias facetas:
Umas boas e outras nem tanto...

ótima reflexão e dica!

  Unknown

9 de novembro de 2008 às 13:31

Bom post! Me fez parar pra pensar e me perguntar, afinal de contas, o que estamos fazendo todos os dias? Voltando pra casa ontem, ao ver gente sofrendo, passando fome e mendigando pelas ruas, estava justamente refletindo sobre isso. E diante da dor dos outros, a gente acaba sofrendo uma catarse coletiva que nos faz valorizar a vida, pensar no mundo, mas, em seguida, infelizmente esquecer. O que acontece com maioria das pessoas, é que ao verem situações como essas ou até mesmo fotos de violência, sendo mostradas por alguém que as define como a natureza humana, é que elas acabam aceitando, pois sabem que é muito mais fácil se conformar com “a crueldade humana” do que fazer o bem pelo seu próximo, do que se sacrificar acima de tudo pelo que é certo. Na minha opinião quem aceita este tipo de coisa e demonstra a grande atração humana pelo sofrimento alheio, esconde-se atrás de uma ótica pré-concebida de que nós (humanidade) não somos mais do que isso. De que somos incapazes de fazer algo maior, pois aceitamos o fato de que é mais fácil matar alguém do que perguntar se alguém precisa de ajuda, é mais fácil promover um holocausto do que liderar uma revolução pacífica e é mais fácil viver sem esperança do que ter de lutar a cada dia que se acorda para que ela não morra em dias cada vez mais difíceis.

Você, futura jornalista, tenha sempre esta esperança viva! É bom estar cercado, todos os dias, de pensamentos que nos lembrem de que é preciso sempre manter a ética e a honestidade acima de tudo!