Papagaio de seda



Em uma tarde ensolarada de vento forte, o pequeno garoto observava os papagaios no céu. Eram tão belos que muitas vezes seus olhos se embaralhavam com tanto colorido. Era desejo seu estar lá, mas era pequeno ainda. Isso era o que sempre escutava de sua mãe, que não cansava de repetir todos os dias quando ele saia para brincar. Contudo, sempre insistia que não tinha problemas, não iria machucar. Falou tanto que certo dia sua mãe lhe derá um caixotinho. Ficou muito feliz, só pensava em correr no outro dia e ver ele flutuar nos céus. Porém, seu sonho acabou virando pesadelo. Todos os meninos começaram a rir do garotinho, naquele dia acabou ganhando o apelido de caixotinho... Nunca mais saiu com ele. Contentava apenas em olhar as outras crianças e a beleza das pipas no céu. Muitas vezes ele perdia-se em seus pensamentos, imaginando com era possível ir tão alto. Como seria bom ser um papagaio, bem vistoso, colorido, deslizando nas curvas imaginárias do vento. Seus pensamentos, muitas vezes, eram interrompidos por uma bola que lhe acertava, ou quando os garotos pediam pra pegar a bola lá em baixo. Num desfiladeiro que dava para uma mata. Ele sempre ia, por ser prestativo e também porque muitas vezes encontrava alguma flor diferente. Flores silvestres, tão brilhantes. Certo dia ele tentou fazer um papagaio, só que era pequeno e os mais velhos não queriam lhe ensinar. Frustrado desistiu. Chegou em casa bem tristonho. No outro dia, como era habitual ele saiu para o campinho. Já estava acostumado. Só ele ali, os mais velhos jogavam bola, outros subiam pra soltar pipa... E assim, sucessivas vezes. Dias e dias. Somente observando.

Hoje, o pequeno garoto não é mais tão pequeno. Apressando dirige pela ruas congestionadas de sua cidade. Está tão atarefado, tem tantas coisas para fazer...
O telefone toca, sua mulher reclama de sua falta de tempo, o filho reclama a presença do pai. De repente, o
trânsito já lento, para por completo. Desliga o telefone, diferente dos outros motoristas sai do carro para saber do que se trata. Um acidente a frente vai fechar a pista por horas. Começa a caminhar. Depara-se com um pequeno garotinho sentado observando as pipas no céu. Indagou o porque do garoto estar só. E ele disse que era muito pequeno, e os outros não o deixavam brincar. O garoto não estava triste. Então, perguntou novamente. De modo que, o garoto lhe explicou que mesmo não participando das brincadeiras, sentia-se bem. Era como se estivesse livre. Revelou que sempre que buscava a bola dos garotos que caiam num desfiladeiro próximo, deparava-se com belas flores, e isso nunca contará para ninguém. Os meninos acabavam zelando por ele, que era amigo de todos. Surpreendeu com a resposta do garoto. Contudo, o susto foi maior, o barulho ensurdecedor de buzinas e gritos de motoristas insanos. Voltou apressando para o carro. Olhava para o garoto já distante que lhe acenava. Em casa, já cansado. Não estranhou com o silêncio. Na janela, ficou parado, por bastante tempo. Visualizou luzes da cidade. Tão belas. Pouco a pouco as luzes foram apagando. Uma a uma. As mais distantes. As mais próximas. Sentiu-se só. Parou e lembrou do menino. Não do garoto que conhecerá a pouco, mas de si mesmo tempos atrás. Não se sentiu mais sozinho. Lembrou da liberdade. De como era bom se sentir livre. Lembrou do garoto, bem vivo. Dentro de si. Então, sentiu-se bem.

4 comentários:

  Alba ... vivendo em busca dos sonhos

6 de dezembro de 2008 às 18:25

é engraçado que esta história tinha um desfecho diferente. Então, fiquei observando a vista por um bom tempo. Me deparei com a beleza da vista que é formada com o cair da noite. Com o tempo, vão se apagando. Uma a uma. Mas a beleza não vai junto. E a sensação de solidão é apagada. Mesmo que as luzes se vão. Estão presentes em nos. E a certeza de que, mesmo diante de todos os problemas, nunca estamos sozinhos. Nos move. A continuar caminhando. Todos os dias.

  Luana...alma livre escalando sonhos impossíveis

6 de dezembro de 2008 às 18:33

neste exato momento me sinto a propria realizacao deste menino (homem) porque sou uma pipa colorida voando em terras nunca dantes navegadas...
Otimo texto..inspirador!

  Unknown

7 de dezembro de 2008 às 20:56

O texto é realmente muito inspirador! Me faz refletir sobre a idade das pessoas, algo que eu acho muito fascinante. É engraçado como num dia a gente se preocupa em acordar cedo pra brincar com os amigos na rua, ou com a pipa nova que ganhou do avô, e no outro, dorme cedo pra não chegar atrasado no trabalho. O tempo, como na estória, é capaz de passar tão depressa depois de alguns anos que a gente nem percebe. Acho que tem a ver com o modo como lidamos com a vida. Tem gente que considera a vida uma ladeira abaixo a partir da primeira ruga que surge, ou do primeiro fio de cabelo branco que aparece, e então viver se torna algo que de certa forma acaba sempre com a morte. É como se a vida se tornasse uma doença crônica de onde ninguém escapa. E quem é que não se amargura com um pensamento desses? Acho que a qualquer momento cada um pode viver os melhores anos de sua vida, do qual jamais irá se arrepender ou esquecer, por isso cada etapa da vida é um fato interessante e importante para cada ser individualmente. Uma fase necessária a ser cumprida. Penso que nossos melhores erros só aconteceram porque nós não sabíamos como evitá-los, mas com eles aprendemos algumas lições. Se tornar homens ou mulheres trás consigo a solução de tantos problemas que imaginamos ter enquanto crianças ou na nossa juventude, que até nos esquecemos o porquê de fazermos disso um peso eterno.

Mas seja como for, crianças, jovens ou adultos, a melhor idade é aquela que você descobre o que ainda pode fazer por você mesmo, é aquela em que você acorda todas as manhãs e te dá uma nova chance, uma nova oportunidade de fazer as coisas diferente e de pelo menos tentar ser feliz.


Obrigada por me fazer refletir sobre isso!

  Unknown

10 de dezembro de 2008 às 17:25

Um lindo texto!

É incrível como nos impressionamos com a infância... uma verdadeira surpresa é conversar com um desses pequeninos e descubrir que você era do mesmo jeito, feliz e satisfeito com tudo, capaz de enfrentar qualquer situação, corajoso o suficiente para viver... É uma pena que crescemos e nos esquecemos, por grande parte do tempo, que nós somos capazes de viver, que somos senhores de nós mesmos. Mas, então, olhamos para uma criança e nos vemos nela, e tudo se torna bem mais simples!

A cada dia me surpreendo com seus textos! São maravilhosos e mostram o trabalho apaixonante que você faz com as palavras...

Abç.