Godard, política , Nouvelle Vague e religião


O percurso político de Jean-Luc Godard é refletido em seu filmes, não como caráter panfletário mas como um interesse em lançar um olhar crítico e poético sobre o mundo. O cineasta apenas retrata uma visão histórica engajada na posição de formador de opinião pelo viés cultural. O diretor aborda temas polêmicos, como guerras e assassinatos, mostrando o reflexo destes na sociedade. A polêmica de Godard alcançou o Brasil nos anos 80 em um embate com a Rede Globo . Já foi chamado de anarquistas e marxista, lunático, direitista e esquerdista, anti-comunista e antifascista (mas enfim por acaso ele é cineasta). Apenas o fato de estar inserido na Nouvelle Vague já o torna um cineasta ambíguo politicamente. Isso porque faz de suas obras um dispositivo ideológico que perde o caráter neutro para um discurso esquerdista. Além disso, a relação de Godard com a Nouvelle Vague extrapola o contexto social e alcança a discussão da produção cinematográfica. Ele subverteu os gêneros do cinema americano, quebrou a narrativa em fragmentos e incorporou a eles trechos de literatura, quadrinhos, música erudita e artes plásticas. O lugar do homem no mundo é uma das maiores preocupações de Godard, pois analisa a sociedade dentro de diferentes contextos históricos mostrando a reação da pessoas em situações variadas. Une-se a isso, a visão pessimista do diretor sobre o mundo e que se reflete na religião, já que ele não considera que essa possa salvar a humanidade da perdição. Para ele as palavras sagradas não adiantariam em nada para a salvação dos homens e acredita que a imagem poderá alcançar tal objetivo. É praticamente uma relação de religiosidade com a imagem.
Os exemplos:
Política - Made in USA, 1966: Godard faz um filme de guerra não típico, ou seja, ele mostra o outro lado da guerra, o lado da conspiração política, do que acontece por trás. Outra característica marcante neste filme além do estilo político é o chamado NOAR, pois apresenta cenas misteriosas, escuras e conspiradoras. Atores atuam como se estivessem dando um depoimento, eles e a câmera. Apesar de político Godard imprime neutralidade ao filme mostrando os dois lados do fascismo. Isso é representado principalmente pela atriz que transita pelos dois lados da guerra, o a favor e o contra, ela esteve em ambos contextos para alcançar seus objetivos.
Nouvelle Vague - Nouvelle Vague, 1990: talvez seja uma forma de explicar o período da Nouvelle Vague. A forma “godardiana” de fazer cinema, descontinuidade narrativa, planos abertos e sem cortes. Talvez seja um filme metafórico no qual não se assassina um homem e sim um modo de fazer cinema, não se salva uma mulher e sim um conceito de liberdade cinematográfica.

Religião - Nossa Música, 2004: Godard demonstra como a guerra leva os seres humanos ao extremo de sua crueldade e como esses reagem diante de pessoas de raças ou religiões diferentes. “Em 1995, em uma entrevista no Festival de Cine de Montreal, Godard destacou que o cinema está perto da religião, já que em cada enquadramento se percebe uma determinada relação entre o homem e o mundo. O paraíso, parte final de Nossa música, nos translada a uma região onde o homem perdeu sua relação com o mundo, e um dos sinais disso é dado por Olga, um dos personagens centrais do filme, ao destacar que quanto mais longe olha, ela mesma já não consegue se encontrar.”

3 comentários:

  Unknown

8 de julho de 2008 às 11:23

PRA SEMPRE GODARD!

Muito bom o post Lu!! Bacana a cronologia! Mas como pode falar de tal individuo sem citar Acossado, o filme ícone da nouvelle vague? Seja pelas criticas, pela rejeição ao cinema tradicional, seja pela revolução que ultrapassa o cinema...

Enfim...Godard é muito bom mesmo. E melhor ainda porque ele não tratou religião, nouvelle vague e política de uma maneira simples, mas fazendo rupturas e quebrando regras dentro do cinema.

Como pensador, Godard mais uma vez é antes de tudo um artista!

Adorei o tema!

  Alba ... vivendo em busca dos sonhos

8 de julho de 2008 às 21:20

Godard é ícone!
Polêmico, inovador!
É choque, quebra...
Sinônimo de inovação!
Além de ter ligação com os quadrinhos!!
Gostei!!!

  Alba ... vivendo em busca dos sonhos

8 de julho de 2008 às 21:22

Ops! Lembrei do trabalho do Edu de Jesus! Sobre cineastas...
Um dos que mais gostei de fazer até hoje.. Com que aprendi muito, sobre cinema. Cinema novo. Estética da fome...Fiz sobre o Glauber Rocha e gostei demais....